terça-feira, 8 de julho de 2014

Vazou água na cabine do Airbus A380. Houve risco de queda?

Por aviões e músicas.


Como tudo que ocorre hoje em dia, mais um incidente aeronáutico virou “viral” nas redes sociais (aquelas que a Globo não fala o nome, tipo Facebook, Twitter, etc). Para quem não viu ainda, o vídeo está abaixo e este é o link da notícia no UOL: Voo entre EUA e Austrália tem inundação e dá meia volta.


Obviamente não vou falar dos comentários dos leitores nos portais, pois culpam até o PT e o PSDB. Mas há que se considerar a seguinte questão:
De acordo com o sindicato dos engenheiros aeronáuticos, a falha colocou o avião em perigo. “Se a água tocasse os componentes eletrônicos, poderia fazer o avião cair”, disse o representante da entidade, Stephen (sic) Purvinas (o nome correto é Steve Purvina)UOL
Analisando friamente, a frase está correta. Se a água atingisse os componentes eletrônicos que comandam a aeronave, poderia haver perigo, mas não queda ainda.
Engenheiros aeronáuticos não são bobos. Explico.
  1. Pegue qualquer avião comercial e você perceberá que a fiação elétrica passa acima das tubulações de água e de outros fluídos hidráulicos, para que, caso ocorra um improvável vazamento em linhas de pressão, o fluído não entre em contato com os fios.
  2. Os centros eletrônicos, onde os equipamentos principais de comando e controle estão localizados (e que são sensíveis a umidade), ficam sob o piso. Como vimos no vídeo, o piso estava cheio d’água, então havia risco? Não, pois estes centros eletrônicos possuem um sistema de drenagem e proteção contra “inundação”. É uma espécie de bandeja com tubos que encaminham a água para a barriga do avião, de onde é expelida para a atmosfera. Esta bandeja cobre toda a parte do centro eletrônico.
  3. Nem todos os ovos estão dentro da mesma cesta. Os computadores e módulos de controle de voo não ficam localizados fisicamente no mesmo lugar – lembram da tal da redundância? Então mesmo que uma parte dos módulos eletrônicos de controle fosse comprometida, a outra parte estaria funcional e manteria o avião operacional.
E sabe qual o resultado de projetar as coisas pensando em tudo quanto é tipo de  falhas? Um mamute como o A380, que possui tanques gigantescos de água para suportar viagens de 16 horas com mais de 500 pessoas dando descarga e lavando as mãos, teve uma linha rompida, inundou o piso e retornou em segurança ao aeroporto.
E se você acha estranho um vazamento de água em um avião, pense na complexidade de se transportar água por tubos dentro de uma cabine que se mexe e balança o tempo todo, e que tem conexões e curvas que precisam ser flexíveis e de material compósitopara ser mais leve… pensou? Admira é não acontecer mais vezes :P (brincadeirinha, o negócio é MUITO bem feito).

Sobre o Autor

Um técnico com bom senso :) 28 anos de aviação comercial, de Lockheed Electra a Boeing 787. Um DJ eclético, não profissional. Tentando simplificar a complexidade da aviação.










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